O Modernismo
Em fevereiro de 1922, tinha início o encontro que reuniu, no Teatro Municipal de São Paulo, artistas e intelectuais cujo ideal era inovar as manifestações artísticas no Brasil: a Semana de Arte Moderna. Da música à escultura, da pintura à literatura, instaurou-se a ideia de romper com conceitos moldados pela mentalidade que fosse considerada passadista, conservadora. Para os idealizadores e participantes dessa semana tão efervescente quanto provocadora, os movimentos estéticos anteriores,

Respaldada financeiramente pela elite burguesa paulistana acostumada a academicismos, a Semana de 22 desenvolveu-se em clima de intensa agitação. Sob vaias e protestos de um público que desentendia o ideal de renovação e que se sentia mesmo afrontado, os artistas liam manifestos e poemas, pronunciavam palestras, apresentavam saraus. Ridicularizando os parnasianos, o poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira, foi declamado pelo próprio escritor, debaixo de gritos e muito barulho. Heitor Vila-Lobos foi alvo de reações escandalizadas e hostis, pelo fato de vir trajado de casaca e chinelo para seu recital. Mal sabia o inflamado e insatisfeito público que o compositor era acometido por intensa dor, devido ao desconforto de um calo. Mario de Andrade – um dos principais articuladores do evento – mal conseguia proferir sua palestra sobre artes plásticas na escadaria de acesso ao hall do teatro, pois foi alvo de ofensas e vaias. Aliás, convém lembrar que foi na ocasião da Semana de Arte Moderna que o autor de Macunaíma dá a conhecer ao público Pauliceia Desvairada – obra produzida anteriormente ao encontro e de extrema relevância ao Modernismo de São Paulo. A Semana de 22 contou com a importância capital do escritor Oswald de Andrade, autor de Memórias sentimentais de João Miramar e de produções fundamentais ao fortalecimento do movimento modernista paulista. Nomes como Graça Aranha, Anita Malfati, Menotti del Picchia, o escultor Victor Brecheret e Di Cavalcanti também constituíram o grupo de artistas e líderes do evento.
Dentre os diversos efeitos produzidos pela Semana de Arte Moderna, consta a revista Klaxon – periódico que durou apenas nove números, mas que refletiu o esforço por sistematizar o ideal de arte moderna apresentado no evento ocorrido em 1922. Na revista, foram publicados textos de suma importância para divulgação da fase inicial do Modernismo.
Finalmente, a Semana de Arte Moderna foi também ponto de encontro para a correspondência entre os artistas e intelectuais de São Paulo e Rio de Janeiro.
Mais tarde, resultante desse elo, culminaria na instauração do Modernismo como movimento artístico propriamente consolidado.
Modernismo
Contexto sócio-histórico e características literárias

O início do século XX nas Artes foi enfatizado pelo surgimento de novas estéticas artísticas, denominadas Vanguardas, as quais concatenavam com as profundas mudanças sociais, políticas e tecnológicas pelas quais o mundo passava. As Vanguardas buscavam romper com tudo aquilo que estava estabelecido até então, combatendo os modelos e padrões instituídos da tradição cultural vigente.
Na política, várias correntes ideológicas foram criadas e difundidas, como o Nazismo, o Fascismo e o Comunismo. Os avanços tecnológicos, o progresso industrial e as descobertas científicas e médicas eram cada vez mais velozes e disseminados.


De certa maneira, apesar de muito diferentes em suas características mais latentes e particulares, todas essas vanguardas tinham como ponto comum o fato de romperem com o passado e se autointitularem “modernas”, ou seja, rejeitarem a tradição e representarem o “novo”. O vigoroso poder de questionamento, a quebra dos padrões e os protestos contra a arte conservadora influenciaram a arte produzida em todos os lugares do mundo, culminando no “Modernismo”, de alcance mundial, movimento que foi dividido em fases, tanto em Portugal quanto no Brasil.
Autores e obras
O Modernismo enquanto literatura esteve sempre associado a outras modalidades artísticas, principalmente às artes plásticas, as quais influenciaram de maneira decisiva as composições literárias. Fernando Pessoa, Sá Carneiro e Almada Negreiros são os autores de maior destaque no Modernismo de Portugal. Esses e outros autores publicavam os seus primeiros textos em revistas literárias, como foram os casos de Exílio e Centauro, ambas de 1916, a primeira com apenas uma edição. Mas foi outra revista, Orpheu, que acabou dando o nome à primeira fase do Modernismo
Português, o Orfismo, que tinha como principal característica criticar o conservadorismo e o academicismo instituídos na literatura do país até então.
Fernando Pessoa (1888-1935)

suas características físicas, psicológicas, seu estilo e sua data de morte. Os mais importantes heterônimos de Pessoa são Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares.
Mário de Sá Carneiro (1890-1916)

de cometer suicídio, o que acaba acontecendo no dia 26 de abril, em um hotel francês na cidade de Nice. A confissão de Lúcio (1914) e Céu em fogo (1915) são as suas obras de maior destaque.
A Segunda Geração do Modernismo português também foi chamada de Presencismo, com nome oriundo da Revista Presença, fundada em 1927 e que seguiu até 1940, em Coimbra, criada por José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões, que queriam aprofundar discussões acerca da teoria da literatura e novas formas de expressão. Notava-se fortemente a influência da psicanálise de Freud.

A Terceira Geração do Modernismo português é chamada de Neorrealismo, começando na década de 40, caracterizada pelo combate ao fascismo, uma literatura crítica, que serve como denúncia social, valendo-se de postura combativa e reformadora, pensando em prestar um serviço à sociedade. Ferreira de Castro é um autor importante da geração, realizando uma espécie de análise dos problemas sociais, ao lado de Manuel da Fonseca e José Gomes Pereira.
Assim como aconteceu na Europa, as artes plásticas foram igualmente muito importantes para o aparecimento do Modernismo, no Brasil. Apesar de o ponto de partida do Modernismo brasileiro ser a “Semana de Arte Moderna”, de 1922, em São Paulo, dois pintores já tinham trazido tendências do Modernismo para o país antes disso, em 1913 e 1917. Foram, respectivamente, Lasar Segall (1891-1957) e Anita Malfatti (1889-1964).
Em 1922, com a “Semana de Arte Moderna”, inicia-se o que hoje chamamos de Primeira Geração do Modernismo brasileiro, também conhecida como 'Fase Heroica”, que segue até aproximadamente 1930, caracterizada, sobretudo, por um profundo compromisso dos artistas com a renovação estética, fundada pela influência das Vanguardas Europeias, assimilando tendências culturais daqueles movimentos.
Foi o período mais radical do Modernismo brasileiro. Buscou-se a criação de uma linguagem nova e original, que conseguisse romper os limites da tradição, mudando vigorosamente a forma como se escrevia até o momento. O verso livre, o abandono das formas fixas tradicionais, a linguagem coloquial, a ausência de pontuação e a valorização do cotidiano foram suas características mais comuns. Nacionalistas, os autores desse período criaram Movimentos e Revistas, como a Revista Klaxon, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o Manifesto Regionalista de 1926 e a Revista de
Antropofagia. Os autores mais importantes da Primeira Geração do Modernismo, no Brasil, foram:
Mário de Andrade (1893-1945)

Oswald de Andrade (1890-1954)

Manuel Bandeira (1886-1968)

Estrela da manhã (1936) e Estrela da vida inteira (1966).
A Segunda Geração do Modernismo nacional, também conhecida como
“Fase de Consolidação”, conta com o aparecimento de grandes escritores na produção ficcional em prosa. A temática nacionalista continua latente e o autor vai ao encontro do povo brasileiro, criando uma narrativa regionalista. Além dos novos autores em prosa, surge um dos maiores poetas do Brasil de todos os tempos: Carlos Drummond de Andrade. Tal geração é tida como mais séria e mais grave, evitando as piadas e os exageros da primeira geração, com uma postura dolorida, austera e circunspecta em relação ao mundo. São muitos os principais autores desse período.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

lírica. Apesar de herdar a liberdade métrica e linguística dos Modernistas, Carlos Drummond transcende a escola literária e representa o ponto máximo da poesia brasileira. Em uma dicotomia 'eu x mundo', segundo o escritor e crítico Affonso Romano de Sant'Anna, Drummond demonstra três atitudes destacadas em sua obra: a poesia irônica como 'eu maior que o mundo', a poesia social como 'eu menor que o mundo' e a poesia metafísica como 'eu igual ao mundo'. Suas obras de maior destaque, entre muitas outras, são Alguma poesia (1930), Sentimento do mundo (1940), A Rosa do povo (1945) e Claro enigma (1951).
Murilo Mendes (1901-1975)

Jorge de Lima (1893-1953)

Cecília Meireles (1901-1964)

o padecimento e a força inexorável do tempo. Suas obras de maior destaque são Espectros (1919), Romanceiro da Inconfidência (1953), Giroflê, Giroflá (1956), Ou isto ou aquilo (1964) e O menino atrasado (1966).
Vinícius de Morais (1913-1980)

música, fazendo da temática amorosa o seu grande mote. Foi um dos fundadores e maiores representantes do mais importante movimento musical brasileiro, a 'Bossa Nova'. Na literatura, destacam-se Cinco elegias (1943), Poemas, sonetos e baladas (1946), a peça teatral 'Orfeu da Conceição” (1954) e seus muitos sonetos de amor, como o soneto brasileiro mais celebrado em todos os tempos, o “Soneto da Fidelidade”, com o seu famigerado desfecho “mas que seja infinito
enquanto dure”.
José Lins do Rego (1901-1957)

Graciliano Ramos (1892-1953)
A Terceira Geração do Modernismo brasileiro, também chamada por alguns
críticos de Pós-Modernista, caracteriza-se por uma nova dimensão do regionalismo, sobretudo com a inovação literária proposta por Guimarães Rosa, e também por uma poesia mais equilibrada e séria, com destaque para a produção de João Cabral de Melo Neto, negando as ironias e as sátiras da primeira geração dos Modernistas, pautando a poesia pelo trabalho zeloso e pelo extremo cuidado com as palavras.
João Guimarães Rosa (1908-1967)

Clarice Lispector (1920-1977)

de contos Laços de família (1960) e Um sopro de vida (1978).
João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
geração, com extrema precisão na escolha e no uso das palavras. O trabalho lúcido e paciente, a objetividade e a exatidão na linguagem marcaram a sua obra, que tem como expoentes Pedra do sono (1942), Os três mal-amados (1943), Morte e vida Severina (1955), A educação pela pedra (1966) e Tecendo a manhã (1999).
Atividades
1. Leia as afirmações abaixo sobre os heterônimos de Fernando Pessoa e assinale a alternativa que traz a sequência correta.
I- Autor do “Livro do desassossego”, é um ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, considerado pelo próprio Fernando Pessoa como um semi-heterônimo.
II- Nasceu no Porto, estudou em um colégio de jesuítas, formou-se em medicina e era um latinista.
Apresenta uma linguagem culta e clássica em poemas que fazem alusões à mitologia grega. Outro
grande autor português, José Saramago, se refere a ele em um importante romance português, onde
situa sua morte em 1936.
III- Um dos heterônimos mais importantes de Pessoa, foi chamado de “O Mestre Ingênuo”. Ligado
à natureza, se declarava antimetafísico e aceitava o mundo exterior assim como ele era, sempre o
contemplando, rejeitando a subjetividade e a introspecção.
IV- Estudou engenharia mecânica e naval em Glasgow. O poema “Tabacaria” (1928) é a sua maior
criação literária. Foi o único heterônimo de Pessoa que viveu fases distintas de produção, que foram
três: a Decadentista, a Futurista/Sensacionalista e a Intimista/Pessimista.
a) Bernardo Soares, Fernando Pessoa, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.
b) Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Fernando Pessoa e Alberto Caeiro.
c) Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Bernardo Soares e Alberto Caeiro.
d) Bernardo Soares, Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos.
e) Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Bernardo Soares.
2. Em relação ao Modernismo Brasileiro, assinale a seguir a opção que traz um importante autor e
uma característica fundamental da Primeira Geração:
a) João Cabral de Melo Neto – rigor formal e estético levado às últimas consequências.
b) Jorge Amado – valorização do cotidiano brasileiro e do regionalismo.
c) Oswald de Andrade – liberdade formal e rompimento com as formas fixas tradicionais.
d) Guimarães Rosa – poesia mais séria e grave, com respeito aos modelos canônicos.
e) Clarice Lispector – forte influência da teoria psicanalítica de Freud na caracterização das personagens.
3. Quais características de Macunaíma (1928), de Mário de Andrade, o distinguem como um dos
textos mais marcadamente integrantes do Modernismo Brasileiro?
Sugestões culturais
Filme ETERNAMENTE PAGU, dirigido por Norma Bengell, de 1988, filmado no Brasil, baseado na vida da escritora e jornalista Pagu, que participou ativamente do Modernismo brasileiro, com Carla Camurati, Nina de Pádua, Antônio Fagundes, Otávio Augusto e grande elenco. Documentário POETA DAS SETE FACES, dirigido por Paulo Thiago, de 2002, feito no Brasil, que remete à obra do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos maiores nomes do Modernismo brasileiro.
Filme VIDAS SECAS, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, de 1963, filmado no Brasil, baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos (1892-1953), com Átila Iório, Genivaldo Lima, Maria Ribeiro e grande elenco.
Filme CAPITÃES DE AREIA, dirigido por Célia Amado, de 2011, filmado no Brasil, baseado no romance homônimo de Jorge Amado (1912-2001), com Jean Luis Amorim, Ana Graciela, Robério Lima e grande elenco.
Filme A HORA DA ESTRELA, dirigido por Suzana Amaral, de 1985, filmado no Brasil, baseado no romance homônimo de Clarice Lispector (1920-1977), com Fernanda Montenegro, Marcélia Cartaxo, José Dumont e grande elenco.
Álbum musical ORFEU DA CONCEIÇÃO, de Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980), primeiro álbum da famosa e produtiva parceria entre Tom e Vinícius, trilha sonora para a peça homônima do “poetinha”, canções orquestradas e regidas por Jobim, gravadas pela “Grande Orquestra Odeon”.
Referências
ANDRADE, Mário de. O Movimento Modernista. In: ______. Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1978.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1995.
CÂNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
CÂNDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. São Paulo: Publifolha, 2000.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através de textos. São Paulo: Cultrix, 1994.
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1995a.
MOISES, Massaud. Dicionários de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1995b.
SARAIVA, Antônio José. Historia da literatura portuguesa. Porto: Porto Editora,
1996.
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