1. Na
década de 1950, quando iniciava seu governo, Juscelino Kubitschek prometeu “50
anos em 5”. Na campanha do atual governo o slogan ficou assim: “O Brasil
voltou, 20 anos em dois”. A ‘tradução’ não tinha como dar certo; era como
comparar vinho com água. E mais: havia uma vírgula no meio do caminho. Na
propaganda, apenas uma vírgula impede que a leitura, ao invés de ser positiva e
associada ao progressismo de Juscelino, se transforme numa mensagem de
retrocesso: o Brasil de fato ‘voltou’ muito nesses últimos dois anos; para
trás.
(Adaptado de Lilia Schwarcz, Havia uma vírgula
no meio do caminho. Nexo Jornal, 21/05/2018.)
Considerando o gênero propaganda institucional
e o paralelo histórico traçado pela autora, é correto afirmar que o slogan do
atual governo fracassou porque
a)
o uso da vírgula provocou uma leitura negativa do trecho que alude ao slogan
da década de 1950.
b)
a mensagem projetada pelo slogan anterior era mais clara, direta, e não
exigia o uso da vírgula.
c)
a alusão ao slogan anterior afasta o público jovem e provoca a perda de
seu poder persuasivo.
d) o duplo sentido
do verbo “voltar” gerou uma mensagem que se afasta daquela projetada pelo
slogan anterior.
2. Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto. As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.
As palavras mais pernósticas são sempre
proparoxítonas. Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e,
despóticas, ainda exigem acento na
sílaba tônica! Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem
mais crédito. É inequívoca a diferença entre o
arruaceiro e o vândalo. Uma coisa é estar
na ponta – outra,
no vértice. Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser
Pontífice.
(Adaptado de Eduardo Affonso, “Há dois tipos de
palavras: as proparoxítonas e o resto”. Disponível em www.facebook.com/eduardo22affonso/.)
Segundo o texto, as proparoxítonas são palavras
que
a)
garantem sua pronúncia graças à exigência de uma sílaba tônica.
b)
conferem nobreza ao léxico da língua graças à facilidade de sua pronúncia.
c)
revelam mais prestígio em função de seu pouco uso e de sua dupla acentuação.
d) exibem sempre
sua prepotência, além de imporem a obrigatoriedade da acentuação.
3.
(Disponível em https://www.facebook.com/SeboItinerante/photos/.
Acessado em 28/05/2018.)
“Acho que só devemos ler a espécie de livros
que nos ferem e trespassam. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o
mar de gelo do bom senso e do senso comum."
(Adaptado de “Franz Kafka, carta a Oscar
Pollak, 1904.” Disponível em https://laboratoriode
sensibilidades.wordpress.com. Acessado em 28/05/2018.)
Assinale o excerto que confirma os dois textos anteriores.
a)
A leitura é, fundamentalmente, processo político. Aqueles que formam leitores –
professores, bibliotecários – desempenham um papel político. (Marisa Lajolo)
b)
Pelo que sabemos, quando há um esforço real de igualitarização, há aumento
sensível do hábito de leitura, e portanto difusão crescente das obras. (Antonio
Candido)
c) Ler é
abrir janelas, construir pontes que ligam o que somos com o que tantos outros
imaginaram, pensaram, escreveram; ler é fazer-nos expandidos. (Gilberto Gil)
d)
A leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, por que não sonhar
os meus próprios sonhos?(Fernando Pessoa)
4. Alguns pesquisadores falam sobre a necessidade de um “letramento racial”, para “reeducar o indivíduo em uma perspectiva antirracista”, baseado em fundamentos como o reconhecimento de privilégios, do racismo como um problema social atual, não apenas legado histórico, e a capacidade de interpretar as práticas racializadas. Ouvir é sempre a primeira orientação dada por qualquer especialista ou ativista: uma escuta atenta, sincera e empática. Luciana Alves, educadora da Unifesp, afirma que "Uma das principais coisas é atenção à linguagem. A gente tem uma linguagem sexista, racista, homofóbica, que passa pelas piadas e pelo uso de termos que a gente já naturalizou. ‘A coisa tá preta’, ‘denegrir’, ‘serviço de preto’... Só o fato de você prestar atenção na linguagem já anuncia uma postura de reconstrução. Se o outro diz que tem uma carga negativa e ofensiva, acredite”.
(Adaptado de Gente branca: o que os brancos de
um país racista podem fazer pela igualdade além de não serem racistas. UOL,
21/05/2018)
Segundo Luciana Alves, para combater o racismo
e mudar de postura em relação a ele, é fundamental
a)
ouvir com atenção os discursos e orientações de especialistas e ativistas.
b) reconhecer
expressões racistas existentes em práticas naturalizadas.
c)
passar por um “letramento racial” que dispense o legado histórico.
d)
prestar atenção às práticas históricas e às orientações da educadora.
5. Leia o texto a seguir, publicado no Instagram e em um livro do @akapoeta João Doederlein.
(João Doederlein, O livro dos
ressignificados. São Paulo: Paralela, 2017, p. 17.)
A ressignificação de estrela ocorre
porque o verbete apresenta
a)
diversas acepções dessa palavra de modo amplo, literal e descritivo.
b)
cinco definições da palavra relativas à realidade e uma definição figurada.
c)
vários contextos de uso que evidenciam o caráter expositivo do gênero verbete.
d) uma entrada
formal de dicionário e acepções que expressam visões particulares.
6. Uma página do Facebook faz humor com montagens que combinam capas de livros já publicados e memes que circulam nas redes sociais. Uma dessas postagens envolve a obra de Henry Thoreau, para quem a desobediência civil é uma forma de protesto legítima contra leis ou atos governamentais considerados injustos pelo cidadão e que ponham em risco a democracia.
(Fonte: Página de Facebook Obras Literárias com
capas de memes genuinamente brasileiros.)
O efeito de humor aqui se deve ao fato de que a
montagem
a)
refuta as razões para a desobediência civil com base na desculpa apresentada
pela criança.
b)
antecipa uma possível
avaliação negativa da desobediência sustentada pelo livro.
c) equipara
as razões da desobediência civil à justificativa apresentada pela criança.
d)
contesta a legitimidade
da desobediência civil defendida por Thoreau.
7. Para driblar a censura imposta pela ditadura militar, compositores de música popular brasileira (MPB) valiam-se do que Gilberto Vasconcelos chamou de “linguagem da fresta”, expressão inspirada na canção “Festa imodesta”, de Caetano Veloso.
(...)
Numa festa imodesta como esta Vamos homenagear
Todo aquele que nos empresta sua testa
Construindo coisas pra se cantar
Tudo aquilo que o malandro pronuncia E que o
otário silencia
Toda festa que se dá ou não se dá Passa pela
fresta da cesta e resta a vida.
Acima do coração que sofre com razão A razão
que volta do coração
E acima da razão a rima
E acima da rima a nota da canção Bemol natural
sustenida no ar
Viva aquele que se presta a esta ocupação Salve
o compositor popular
(Gilberto de Vasconcelos, Música popular: de
olho na fresta. Rio de Janeiro: Graal, 1977.)
É correto afirmar que, na canção, essa
“linguagem da fresta” transparece
a)
na contradição entre “festa” e “fresta”, que funciona como crítica ao malandro.
b)
na repetição de palavras com pronúncia semelhante para louvar a MPB.
c) na
referência à “fresta” como forma de o compositor se pronunciar.
d)
na incoerência da rima entre “festa” e “imodesta” para prestigiar o compositor.
8. “Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.”
(Clarice Lispector, “Amor”, em Laços de
família. 20ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990, p. 39.)
Ao caracterizar a personagem Ana, a expressão
“piedade de leão” reúne valores opostos, remetendo simultaneamente à compaixão
e à ferocidade. É correto afirmar que, no conto “Amor”, essa formulação
a)
revela um embate de natureza social, já que a pobreza do cego causa náuseas na personagem.
b)
expressa o dilema cristão da alma pecadora diante de sua incapacidade de fazer
o bem.
c)
indica um conflito psicológico, uma vez que a personagem não se sente capaz de amar.
d) alude a um
contraste moral e existencial que provoca na personagem um sentimento de angústia.
9. “...Nas ruas e casas comerciais já se vê as faixas indicando os nomes dos futuros deputados. Alguns nomes já são conhecidos. São reincidentes que já foram preteridos nas urnas. Mas o povo não está interessado nas eleições, que é o cavalo de Troia que aparece de quatro em quatro anos.”
(Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo.
São Paulo: Ática, 2014, p. 43.)
O trecho anterior faz parte das considerações
políticas que aparecem repetidamente em Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus. Considerando o conjunto dessas observações, indique a
alternativa que resume de modo adequado a posição da autora sobre a lógica
política das eleições.
a)
Por meio das eleições, políticos de determinados partidos acabam se perpetuando
no exercício do poder.
b) Os políticos se
aproximam do povo e, depois das eleições, se esquecem dos compromissos assumidos.
c)
Os políticos preteridos são aqueles que acabam vencendo as eleições, por força
de sua persistência.
d)
Graças ao desinteresse do povo, os políticos se apropriam do Estado,
contrariando a própria democracia.
10. (...)
Eu tenho uma ideia.
Eu não tenho a menor ideia.
Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.
Memórias de Copacabana. Santa Clara às três da tarde. Autobiografia. Não,
biografia.
Mulher.
Papai Noel e os marcianos. Billy the Kid versus
Drácula. Drácula versus Billy the Kid. Muito sentimental.
Agora pouco sentimental.
Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos
que o
seu]
amor de ontem.
Gertrude: estas são ideias bem comuns.
Apresenta a jazz-band.
Não, toca blues com ela. Esta é a minha
vida.
Atravessa a ponte. (...)
(Ana Cristina Cesar, A teus pés. São
Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 9.)
Esse trecho do poema de abertura de A teus
pés, de Ana Cristina Cesar,
a)
expressa nostalgia do passado, visto que mobiliza referências à cultura pop dos
anos 1970.
b) requisita a
participação do leitor, já que as referências biográficas são fragmentárias.
c)
exclui a dimensão biográfica, pois se refere a personagens imaginários e de ficção.
d)
tematiza a descrença na poesia, uma vez que a poeta se contradiz continuamente.
Gabarito
https://mauromarcelatividadesonline.blogspot.com/2019/10/gabarito-questoes-unicamp.html
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