Gramática, para quê?
Você já deve ter lido expressões como essas por aí... Provavelmente, entendeu a mensagem de todos os anúncios, não é mesmo? Essa compreensão deve-se ao fato de utilizarmos um mesmo código (Língua Portuguesa), instrumento de comunicação entre um emissor e um receptor. Mas o que acontece quando não utilizamos adequadamente esse código? Todos compreenderiam a mensagem facilmente?
O último anúncio faz uma oferta imperdível, no entanto, não era essa a informação que o anunciante desejava transmitir exatamente. O caso foi parar na delegacia!1 A falta de domínio do código prejudica a comunicação, causando transtornos desnecessários.
É imprescindível reconhecermos que a linguagem é, “ao mesmo tempo, um elemento da cultura e a condição fundamental para que exista a cultura.” (FARACO; MOURA, 1998, p. 17).
Assim, para utilizarmos a linguagem, as comunidades adotaram um código específico, a LÍNGUA, como expressão verbal (oral e escrita) da sua maneira de viver em sociedade e transmitir sua cultura.
Há diferenças entre a língua falada e a língua escrita, pois existem diversas situações de comunicação formais ou informais que utilizamos diariamente.
Entretanto, o registro da língua não pode ser feito de qualquer maneira, senão a comunicação estaria comprometida. Foi o que aconteceu no exemplo do anúncio do chip para celular.
Para evitar essa “bagunça” ou “colocar ordem nas coisas”, a GRAMÁTICA NORMATIVA estabelece regras a serem obedecidas por todos aqueles que querem falar e escrever corretamente.
Para que estudar gramática?
• para tornar os usuários da língua competentes e possam empregá-la em várias situações de comunicação;
• para conhecer a língua sem si, sua forma e seu funcionamento;
• para ampliar a capacidade de análise e reflexão;
(Poderíamos, ainda, mencionar a importância das redações nos vestibulares e no Enem, mas esse fato vocês já sabem!)
Além desses argumentos, é importante lembrar alguns conceitos:
• noção de CERTO ou ERRADO: Há uma valorização da linguagem culta, certamente isso ocorre pois há um ideal linguístico; porém, as variações da língua são intrínsecas a ela, ocorrem devido à necessidade de uma comunidade linguística.
Então, ocorrem DESVIOS em relação à norma culta; se houve entendimento linguístico, houve comunicação. O essencial é a ADEQUAÇÃO linguística.
Questão 116 – ENEM 2014
Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como
um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma de língua em suas atividades
escritas? Não deve mais corrigir? Não!
Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou dos de seus colunistas.
(POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 – adaptado).
Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português correto”. Assim sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber
(A) descartar as marcas de informalidade do texto.
(B) reservar o emprego da norma padrão aos textos de circulação ampla.
(C) moldar a norma padrão do português pela linguagem do discurso jornalístico.
(D) adequar as formas da língua a diferentes tipos de texto e contexto.
(E) desprezar as formas da língua previstas pelas gramáticas e manuais divulgados pela escola.
Resposta oficial: D => palavra-chave: Adequação
Variações Linguísticas
• variedade padrão: gramática normativa
• variedada não padrão: coloquial / popular
Alguns autores (CUNHA; CINTRA, 2013) apresentam a seguinte classificação:
a) Variações geográficas (diatópicas): falares regionais
b) Variações históricas: mudanças na língua em determinada época
c) Variações socioculturais (diastráticas): particularidade de uma população ou grupo social
“Na língua existe, pois, ao lado da força centrífuga de inovação, a força centrípeta da conservação, que, contrarregrando a primeira, garante a superior unidade de um idioma como o português, falado por povos que se distribuem pelos cinco continentes.”(CUNHA; CINTRA, 2013, p. 4).
Questões
Questão 100 - ENEM 2014
Óia eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo pra xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar.
Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raque
Diz que tou aqui com alegria.
(BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: <www.luizluagonzaga.mus.br >. Acesso em: 5
maio 2013)
A letra da canção de Antônio Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural do Brasil.
O verso que singulariza uma forma do falar popular regional é
(A) “Isso é um desaforo”
(B) “Diz que eu tou aqui com alegria”
(C) “Vou mostrar pr’esses cabras”
(D) “Vai, chama Maria, chama Luzia”
(E) “Vem cá, morena linda, vestida de chita”
A resposta C indica uma expressão típica de algumas regiões do país.
Questão 128 – ENEM 2014
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é
apanhada (aliás, não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”).
A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saber dizer que viram um filme que trabalha muito
bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
(SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984)
A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa
característica da língua, evidenciando que
(A) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
(B) a utilização de inovações do léxico é percebida na comparação de gerações.
(C) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
(D) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
(E) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões
Para aprender mais:
GRAMÁTICAS:
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Gramática do português contemporâneo. 6. ed. Rio
de Janeiro: Lexikon, 2013.
FARACO, Carlos E.; MOURA, Francisco M. Gramática. 17. ed. São Paulo: Ática, 1998.
TERRA, Ernani; NICOLA, José de. 1001 dúvidas de português. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.
INTERNET:
<http://cvc.instituto-camoes.pt/a-brincar/gramaticando.html#.VpkfUyorLIU>. Acesso em: 7 jan. 2016.
<http://iilp.cplp.org/>. Acesso em: 7 jan. 2016.
<http://revistalingua.com.br/>. Acesso em: 7 jan. 2016.
Este blog é um espaço reservado para todas as questões e vertentes de vestibular na disciplina de Língua Portuguesa em todas as frentes: Literatura, Gramática e Redação. Sou professor de Língua Portuguesa e Inglês com formação em Letras pela PUC-SP, Especialista em Literatura e com Pós-graduação em Leitura e Produção de Texto na Loyola University Chicago. Escritor dos livros: "A divina tragicomédia humana" e "A cabeça do objeto". .
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