Arcadismo

Cláudio Manuel da Costa

Os sonetos de Cláudio Manuel da Costa, segundo Alfredo Bosi (1994), são caracterizados pelo bucolismo e pelas figuras de pastoras quase sempre inacessíveis pelo eu-lírico. Um procedimento temático empregado na poesia de Costa, também apontado por Cândido (2004), é a metamorfose de acidentes naturais como a transformação de personagens mitológicas, aproximando a realidade brasileira à tradição clássica, o que a afirma na tradição literária ocidental. Suas principais publicações são Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa (1768), na qual o poeta adota o pseudônimo Glauceste Satúrnio, e Vila Rica (escrito em 1773, publicado postumamente, em 1839).
Soneto LXXXI
Junto desta corrente contemplando
Na triste falta estou de um bem que adoro;
Aqui entre estas lágrimas, que choro,
Vou a minha saudade alimentando.
Do fundo para ouvir-me vem chegando
Das claras hamadríades o coro;
E desta fonte ao murmurar sonoro,
Parece, que o meu mal estão chorando.
Mas que peito há de haver tão desabrido,
Que fuja à minha dor! Que serra, ou monte
Deixará de abalar-se a meu gemido!
Igual caso não temo, que se conte;
Se até deste penhasco endurecido
O meu pranto brotar fez uma fonte.
Tomás Antônio Gonzaga
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Vejamos um trecho da “Lira I”:
Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Outros autores importantes
lido como uma louvação ao Marquês de Pombal (1699-1782), por quem Basílio da Gama era protegido.
Outro autor de destaque é Frei José Santa Rita Durão (1722-1784), cuja obra Caramuru (1781) vai em direção contrária a O Uraguai, por celebrar os jesuítas, por meio do pensamento de que é um progresso fazer com que uma sociedade primitiva se torne civilizada, de acordo com os princípios católicos (ou seja, por meio da catequese dos jesuítas).
O poema épico de Santa Rita Durão trata do descobrimento da Bahia, contando a história de Diogo Álvares Correia, náufrago português que passa a ser chamado pelos índios tupinambás de Caramuru (“filho do trovão”). Diogo-Caramuru casa-se com a índia Paraguaçu, simbolizando a união do colonizador com o povo colonizado.
Atividades
Leia o poema a seguir de Cláudio Manuel da Costa para responder às questões 1, 2 e 3.
Soneto VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado,
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quando pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera;
Nem troncos vejo agora, decadentes.
Eu me engano: a região esta não era...
Mas, que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera?
Fonte: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/fs000040.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015.
1. Como se caracterizam o passado e o presente, no poema? Use trechos do poema para justificar a sua resposta. O passado é florescente e eufórico (“Árvores aqui vi tão florescentes, / Que faziam perpétua a primavera), e o presente é decadente e disfórico (“Nem troncos vejo agora, decadentes”).
2. Levando em consideração a sua resposta anterior e as premissas do pensamento árcade, qual o vínculo entre passado, a natureza encontrada (espaço externo) e a condição presente do eu-lírico (espaço interno)? A natureza do passado, perdida no presente, é vista com nostalgia. A decadência dos elementos da natureza (árvores, fonte) do espaço externo representam o sofrimento interno do eu-lírico. Ou seja, ao falar do que vê na natureza, o eu-lírico fala do que está sentindo.
3. Qual é a ironia amarga para o eu-lírico que emerge na última estrofe do poema? Notar que ele havia se enganado, pois a região em que ele se encontrava não era a que ele pensava ser. Na verdade, o que causa o seu próprio mal-estar gera projeções sobre o espaço externo.
Sugestões de sites públicos
BIBLIOTECA “Literatura Digital”, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Disponível em: <http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/>. Nesse site estão disponíveis várias obras de poetas árcades.
BIBLIOTECA Brasiliana Guita e José Mindlin. Disponível em: <http://www.bbm.usp.br/>. No acervo desta biblioteca estão disponíveis versões digitalizadas várias obras raras, como as primeiras edições dos livros de Cláudio Manuel da Costa e de outros poetas árcades.
Sugestão de filme
CARAMURU - a invenção do Brasil. Direção: Guel Arraes. Produção: Anna Barroso.
Intérpretes: Selton Mello, Camila Pitanga e Deborah Secco. Produzido por Globo
Filmes; Lereby Productions. 2001.
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
A LAGOA AZUL
PERFUME, A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO
Referências
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 37. ed. São Paulo: Cultrix, 1994.
CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira. 4. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 15. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2014.
COSTA, Cláudio Manoel. Soneto LXXXI. In: ______. Obras poéticas de Glauceste Satúrnio. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ fs000040.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015.
GONZAGA, Tomás Antônio. Lira I. In: ______. Marília de Dirceu. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000301.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015.
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