quarta-feira, 9 de maio de 2018

Tema de redação - Direitos humanos como critério de avaliação nos vestibulares


A regra que exige o respeito aos direitos humanos na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está prevista no edital desde 2013. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a prova de redação do Enem sempre exigiu que o participante respeite os direitos humanos.
Uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1a região (TRF1) determinou a suspensão do item do edital deste ano que prevê nota zero para redações que desrespeitarem os direitos humanos. O Inep disse que respeita a decisão judicial, mas recorrerá da sentença assim que for notificado.
(...)
A decisão da Justiça que anula a regra que prevê o respeito aos direitos humanos foi tomada a pedido da Associação Escola Sem Partido. A entidade diz que a regra é uma “punição no expressar de opinião”.
“Ninguém é obrigado a dizer o que não pensa para poder ter acesso às universidades”, argumentou a Associação Escola Sem Partido.
Em nota, o Ministério da Educação reafirmou que todos os seus atos são balizados pelo respeito irrestrito aos direitos humanos, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, consagrada na Constituição Federal Brasileira. Neste ano, a prova de redação do Enem está marcada para o dia 5 de novembro. (http://http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-10/regra-sobre-direitos-humanos-na-redacao-esta-no- enem-desde-2013-veja)


Ninguém deve ser punido por ter opinião diferente do que seja considerado politicamente correto. Em um exame de redação, o que deve valer é a qualidade do texto. A decisão do Supremo Tribunal Federal deixa isso claro.
Comparar o que se pede no BAC —o Enem da França— nos permitiria entender os requisitos para escrever um bom texto: cultura geral e fundamentação para argumentar.
Gostemos ou não da abordagem francesa, nela é possível identificar elementos importantes do que seja uma formação intelectual rigorosa. Ela exige conhecimento aprofundado de literatura e história e permite ao jovem avaliar as bases de suas próprias convicções. Ou seja: a formação do espírito crítico exige cultura e rigor de pensamento.
Por outro lado, vale indagar se o melhor que podemos fazer é pedir aos jovens o que a juventude já os impele a fazer naturalmente –buscar soluções para salvar o mundo. Não seria mais prudente ajudá-los a afiar suas ferramentas cognitivas? (Araujo e Oliveira, J. B., “Ensinar a pensar ou ensinar o que pensar”.


Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o Enem é uma avaliação pública, realizada pelo governo federal, cujos atos obedecem à Constituição Federal e à lei ordinária.
Será possível admitir, num exame público, financiado com o dinheiro do contribuinte, o desrespeito à lei e à
Constituição? Poderia ser considerada uma redação que defendesse, por exemplo, o genocídio como forma de resolver os problemas sociais brasileiros?
Da mesma forma, a pretensa defesa da liberdade de expressão permitiria a tolerância a discursos abertamente racistas no texto de um candidato à universidade pública?
No atual contexto, é preciso distinguir o posicionamento perante um tema, imprescindível ao texto argumentativo, do sectarismo ideológico que vem predominando no exasperado debate político brasileiro. Abordar um determinado assunto de forma assertiva e clara não deve se confundir com a adoção de posição intransigente, estreita, intolerante. Estas desconhecem ou desqualificam argumentos contrários a determinado ponto de vista.
É pela análise racional que conseguimos atingir um patamar de compreensão razoável do mundo... (Lozano, J. R., “Proteger a racionalidade”. In: Folha de S.Paulo, 11 nov. 2017)

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