Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Leia as afirmações a
respeito de Pneumotórax, de Bandeira:
I. A inclusão do discurso direto, a pontuação expressiva e
uma linha tracejada que cria um espaçamento gráfico são recursos que reforçam o
tom de prosa do poema e simulam uma dramatização.
II. O poema apresenta registro de linguagem essencialmente
coloquial, o que contribui para ressaltar o caráter prosaico da situação
apresentada.
III. A veracidade do que se apresenta no poema se deve à
relação inevitável com a doença realmente vivida pelo poeta Manuel Bandeira.
É correto o que se afirma em:
(A) I. (B) II. (C) III. (D)
I e II. E) II e III.
2. Poema retirado de
uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro
[da Babilônia num barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu
afogado.
(Libertinagem, Manuel Bandeira)
Leia as afirmações a
respeito dos versos de Manuel Bandeira:
I. A originalidade e o aspecto inovador do poema são
expressos especialmente por meio do tom de prosa narrativa e pela síntese de
linguagem que faz lembrar o texto jornalístico.
II. O título do poema denuncia a intenção de se registrar de
modo sucinto, objetivo e impessoal uma notícia.
III. Adotando o princípio modernista de que a arte deve
ater-se ao cotidiano simples, banal, o poema focaliza um episódio corriqueiro
relativo a uma única pessoa.
Pode-se afirmar que:
(A) todas as afirmações são corretas.
(B) somente a afirmação I é correta.
(C) somente as afirmações I e II são corretas.
(D) somente as afirmações I e III são corretas.
E) somente as afirmações II e III são corretas.
3. (FUVEST) Macumba
de Pai Zusé
Na macumba do Encantado
Nego véio pai de santo fez mandinga
No palacete de Botafogo
Sangue de branca virou água
Foram vê estava morta! (Libertinagem, Manuel Bandeira)
É correto afirmar que, neste poema de Manuel Bandeira,
(A) emprega-se a modalidade do poema-piada, típica da década
de 20, com o fim de satirizar os costumes populares.
(B) usam-se os recursos sonoros (ritmo e metro regulares,
redondilha menor) para representar a cultura branca, e os recursos visuais
(imagens, cores), para caracterizar a religião afro-brasileira.
(C) mesclam-se duas variedades lingüísticas: uma que se
aproxima da língua escrita culta e outra que mimetiza uma modalidade da língua
oral, popular.
(D) manifesta-se a contradição entre dois tipos de práticas
religiosas, representadas pelas oposições negro x branco, macumba x pai de
santo, nego véio x Encantado.
E) expressa-se a tendência modernista de encarar a cultura
popular como manifestação do atraso nacional, a ser superado pela modernização.
4. (FUVEST) Leia o
poema de Manuel Bandeira para responder ao teste.
Não sei dançar
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.
Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira
gorda.(...) (Libertinagem, Manuel Bandeira)
Sobre os versos transcritos, assinale a alternativa
incorreta:
(A) A melancolia do eu-lírico é apenas aparente:
interiormente ele se identifica com a atmosfera festiva do carnaval, como se
percebe no tom exclamativo de "Eu tomo alegria!"
(B) A perda dos familiares e da saúde são aspectos
autobiográficos do autor presentes no texto.
(C) A alegria do carnaval é meio de evasão para eu-lírico,
que procura alienar-se de seu sofrimento.
(D) O último verso transcrito associa-se ao título do poema,
pois o eu-lírico não participa, de fato, do baile de carnaval.
E) O eu-lírico revela, em tom bem-humorado e
descompromissado, ser uma pessoa exageradamente sensível.
5. (UFLA) Do ponto de vista das vanguardas europeias, o
“Poema tirado de uma Notícia de Jornal” (o mesmo da questão 2) pode ser
classificado como
(A) surrealista; os versos do poeta se reencontram com
algumas propostas do Romantismo, especialmente a valorização do mistério.
(B) expressionista; além da representação dos horrores da
guerra, o poeta registra a expressão do mundo.
(C) cubista; o poeta expressa a poesia sob uma nova
dimensão, procurando fazer desenhos com as palavras.
(D) futurista; o poeta quer cantar o amor ao perigo,
destruir a sintaxe, dispondo os substantivos ao acaso, como nascem.
(E) dadaísta; o poeta faz um reaproveitamento de uma notícia
já existente
Vou-me Embora pra
Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Questões do poema “Vou
me embora pra Pasárgada”
1. Qual é o significado de Pasárgada para o eu lírico?
2. No poema ocorre antítese entre aqui e lá. Identifique o
espaço a que se refere cada um desses advérbios.
3. Que verso do poema sintetiza o motivo da evasão da
realidade?
4. Esse mecanismo de evasão da realidade foi frequente em
outro estilo de época. Qual?
5. A realidade de Pasárgada não obedece à lógica. Anote dois
fatos dessa realidade que permitem tal conclusão.
6. Na infância, o poeta Manuel Bandeira contraiu
tuberculose, que na época era uma doença fatal. Releia a terceira estrofe do
poema e reflita: as atividades que o eu lírico vê como possíveis em Pasárgada
são rotineiras na juventude. Por que, então, ele as valoriza tanto?
7. Os anseios que o eu lírico pretende concretizar em
Pasárgada são de natureza predominantemente espirituais ou materiais?
8. Na biografia de Bandeira consta que lhe serviu de babá
uma mulata chamada Rosa, que é citada no poema. Quem, lá em Pasárgada, exercerá
o papel que Rosa desempenhou aqui? Por quê?
9. (PUC-SP)Do poema é INCORRETO afirmar que:
(A) sugere dinamismo provocado pelo ritmo marcado da
redondilha maior e pela presença de verbos de movimento.
(B) projeta um lugar onde se pode viver pelo imaginário o
que a vida madrasta não ofereceu.
(C) apresenta o tema da evasão da realidade como forma de
libertar-se das limitações da vida presente.
(D) constrói-se pela oposição entre dois advérbios de lugar
e estabelece diálogo com tema romântico.
(E) apresenta versos brancos e livres, bem como linguagem
simples e coloquial, porém desprovida de procedimento metafórico.
Gabarito
1 - A
2 - B
3 - C
4 - A
5 - E
9 - E
Nenhum comentário:
Postar um comentário