1. (SEPLAG - Polícia Militar/MG-2012 - Assistente administrativo)
− Ã-hã, quer entrar, pode entrar... Mecê sabia que eu moro aqui? Como é que sabia? Hum, hum...Cavalo seu é esse só? Ixe! Cavalo tá manco, aguado. Presta mais não.
(ROSA, João Guimarães. Estas estórias: Meu tio o Iauaretê. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969, p.126)
Observando-se a variedade linguística de que se vale o falante do trecho acima, percebe-se uso de:
a) linguagem marcada por construções sintáticas complexas e inapropriadas para o contexto, responsáveis por truncar a comunicação e dificultar o entendimento.
b) linguagem formal, utilizada pelas pessoas que dominam o nível culto da linguagem, sendo, portanto, adequada à situação em que o falante se encontra.
c) gírias e interjeições, como ixe e aguado, prioritariamente utilizadas entre os jovens, sendo assim, incompatíveis com a situação em que o falante se encontra.
d) coloquialismos e linguagem informal, como mecê e tá, apropriados para a situação de informalidade em que o falante se encontra.
2. (FUNRIO – Ministério da Justiça - 2009 - Analista técnico administrativo)
Reunião sobre clima termina com racha
A penúltima reunião de negociação antes da conferência do clima de Copenhague terminou ontem em Bancoc, Tailândia, com duas promessas: uma dos países desenvolvidos, de que vão acabar com o Protocolo de Kyoto em favor de um acordo do clima único para ricos e pobres. A outra, dos países em desenvolvimento, de que não deixarão isso acontecer. "O Grupo da África se opõe à substituição do Protocolo de Kyoto por quaisquer outros acordos. Vou repetir: o Grupo da África se opõe à substituição do Protocolo de Kyoto por quaisquer outros acordos", declarou o representante da Argélia numa das plenárias finais do encontro, ontem de manhã. Foi apoiado por todo o G7, o grupo dos países em desenvolvimento, que o Brasil integra.
O título da notícia jornalística “Reunião sobre clima termina com racha” apresenta marca de variação linguística própria
a) da expressão retórica no nível lexical.
b) do registro informal no nível semântico.
c) do estilo jornalístico no nível sintático.
d) da fala popular no nível mórfico.
e) do texto formal, no nível fonético.
3. Leia o texto a seguir e assinale a alternativa incorreta:
Duzentas gramas
Tenho um amigo que fica indignado quando peço na padaria “duzentas” gramas de presunto – já que a forma correta, insiste ele, é duzentos gramas. Sempre discutimos sobre os diferentes modos de falar. Ele argumenta que as regras de pronúncia e de ortografia, já que existem, devem ser obedecidas, e que os mais cultos (como eu, um cara que traduz livros) devem insistir na forma correta, a fim de esclarecer e encaminhar gente menos iluminada.
Eu sempre argumento que, quando ele diz que só existe uma forma correta de falar, está usurpando um termo de outro ramo, que está tentando aplicar a ética à gramática, como se falar corretamente implicasse algum grau de correção moral, como se dizer “duzentas” significasse incorrer numa falha de caráter, e dizer duzentos gramas fosse prova de virtude e integridade. Ele vem então com aquela de que se pode desculpar a moça da padaria quando fala “duzentas”, pois ela desconhece a norma culta, mas quanto a mim, que a domino, demonstro uma falha de caráter ao ignorá-la em benefício dos outros – só para evitar o constrangimento de falar diferente. “Quem sabe fazer o bem e não o faz comete pecado” – parece concluir.
Eu reconheço, sim, que falo de forma diferente dependendo de quem seja meu interlocutor. Às vezes uso deliberadamente formas como “tentêmo” ou “vou ir”. Pelo mesmo motivo, todas as gírias e dialetos locais me interessam. Não que – por exemplo – a decisão de dizer “duzentas” gramas seja consciente, uma premeditação em favor da inclusão social. É que, algumas vezes, a coisa certa a se fazer – sobretudo na linguagem falada – é ignorar a norma, ou pervertê-la. Quando peço “duzentas gramas de presunto, por favor”, a moça da padaria invariavelmente repete, como que para extorquir minha profissão de fé à norma inculta:
− DUZENTAS?
− Duzentas, confirmo eu, já meio arrependido, mas caindo, ainda assim, em tentação.
(Paulo Brabo. A bacia das almas.)
a) Em situações formais de interação verbal/interlocução, é recomendável que seja utilizada a linguagem culta (norma-padrão da língua portuguesa).
b) Mesmo dominando a linguagem culta (norma-padrão), os usuários das línguas devem selecionar os níveis de linguagem considerando o contexto discursivo e o nível de formalidade entre os interlocutores.
c) A linguagem coloquial é empregada em situações informais, com os amigos, familiares e em ambientes e/ou situações em que o uso da norma culta da língua possa ser dispensado.
d) A linguagem coloquial é mais utilizada oralmente e, pelo fato de ser utilizada em nosso dia a dia, não requer a perfeição em termos gramaticais.
e) A existência de diferentes níveis de linguagem não significa que podemos utilizar sempre a linguagem coloquial, já que sempre prevalecerá a língua padrão em quaisquer situações comunicativas.
4. Leia o trecho de um texto publicado no livro Educação em língua materna:
Gerente – Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?
Cliente – Estou interessado em financiamento para compra de veículo.
Gerente – Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente?
Cliente – Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.
Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma.
(BORTONI, Ricardo, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004.)
Com relação ao contexto discursivo e aos níveis de linguagem empregados, julgue qual das alternativas a seguir está correta:
a) Na terceira e última fala do “Gerente”, ocorre um desvio de nível de linguagem que impede a compreensão do enunciado por parte do “Cliente”.
b) Devido à diferença de níveis de linguagem no diálogo entre Gerente e Cliente, é possível dizer que o nível de formalidade entre os interlocutores é muito alto.
c) Mesmo sendo “Gerente” e “Cliente”, aparentemente, próximos/conhecidos, devemos sempre utilizar a linguagem culta com quaisquer interlocutores em sinal de respeito.
d) A flexão do verbo “dispor” (“Nós dispomos”) está incorreta e, dessa forma, podemos afirmar que a linguagem coloquial é predominante no trecho do livro de Ricardo Bortoni.
e) O “Gerente” adequou o nível de linguagem no decorrer do diálogo porque considerou o contexto discursivo e o nível de formalidade com seu “Cliente”.
5. Ao fazerem uso da linguagem coloquial, os falantes utilizam:
a) linguagem formal/padrão da língua, porém, escrita da mesma forma como é pronunciada pelos falantes.
b) linguagem informal, neologismos, siglas e gestos.
c) linguagem informal, gírias, estrangeirismos, abreviações e palavras que não se relacionam à norma culta da Língua
d) linguagem não verbal, como gestos, mímicas e desenhos.
e) linguagem verbal escrita a partir de siglas e abreviações.
6. Leia um trecho do poema “A terra é naturá”:
A terra é naturá
Iscute o que tô dizendo,
Seu dotô, seu coroné:
De fome tão padecendo
Meus fio e minha muié.
Sem briga, questão nem guerra,
Meça desta grande terra
Umas tarefas pra eu!
Tenha pena do agregado
Não me dexê deserdado
Seu dotô, seu coroné:
De fome tão padecendo
Meus fio e minha muié.
Sem briga, questão nem guerra,
Meça desta grande terra
Umas tarefas pra eu!
Tenha pena do agregado
Não me dexê deserdado
(PATATIVA DO ASSARÉ. A terra é naturá. In: Cordéis e outros poemas. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2008.)
Com relação ao nível de linguagem empregado no poema, é possível afirmar que:
a) A linguagem muito coloquial compromete a leitura do poema e, dessa forma, impede que o leitor compreenda seu conteúdo e sentido.
b) As palavras “dotô”, “conoré” e “muié” revelam uma característica exclusiva do dialeto nordestino da língua portuguesa brasileira.
c) A linguagem empregada no poema é padrão, embora haja poucas palavras, como “dotô”, “conoré”, “muié” e “dexê”, que são utilizadas na linguagem coloquial.
d) A linguagem do poema é coloquial, já que é construído a partir da reprodução fiel da fala de algum nativo da língua portuguesa.
e) A linguagem empregada no poema é padrão. O que ocorre é que as palavras “dotô”, “conoré” e “muié” eram assim escritas antigamente.
7. (ENEM-2001) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz de Caminha:
“A terra é mui graciosa,
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muito
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui”.
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias,
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muito
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis,
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui”.
(MENDES, Murilo. Murilo Mendes - poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)
→ Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como ocorre em:
a) A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais
b) Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
c) A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
d) De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
e) No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
Gabarito
1. Letra D: A linguagem coloquial é empregada em situações informais, com os amigos, familiares e em ambientes e/ou situações em que o uso da norma culta da língua possa ser dispensado.
2. Letra B: A palavra “racha” foi empregada coloquialmente no sentido de “rachar, repartir, dividir” opiniões entre os líderes mundiais a respeito do clima. Embora o jornal impresso seja um suporte de comunicação formal, que requer a utilização da norma-padrão da língua portuguesa, a utilização de uma palavra própria da linguagem coloquial reforça os efeitos de sentido com relação ao conteúdo do artigo/texto/notícia.
3. Letra E: Embora haja certa valorização histórico-cultural da linguagem culta em detrimento da linguagem coloquial, não é possível afirmar que a primeira é ou deve ser mais utilizada do que a segunda, já que a opção pelo nível de linguagem depende do contexto discursivo e da relação estabelecida entre os interlocutores do discurso.
4. Letra E: Mesmo dominando a linguagem culta, os usuários das línguas devem selecionar os níveis de linguagem considerando o contexto discursivo e o nível de formalidade entre os interlocutores.
5. Letra C: A linguagem coloquial, também chamada de informal ou popular, encontra fluidez na oralidade e é utilizada pelos falantes cotidianamente. Pelo fato de ser utilizada em nosso dia a dia, a linguagem coloquial não requer a perfeição em termos gramaticais. Dessa forma, é comum empregarmos gírias, estrangeirismos, abreviações e palavras que não se relacionam à norma culta da língua.
6. Letra D: O poema é todo construído a partir da linguagem coloquial ao reproduzir fielmente a fala do eu lírico.
7. Letra A: Na oração “A terra é mui graciosa”, o advérbio “muito” sofreu uma apócope. Embora essa apócope seja considerada como “arcaísmo”, algumas pessoas ainda a utilizam. Já na oração “Tem macaco até demais”, é possível observarmos o emprego do verbo “ter” no lugar do verbo “haver” e também o uso da locução adverbial “até demais”, exemplos de registros em linguagem coloquial da língua portuguesa.
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