Questão 01 - FCL 2017 - Sobre o foco narrativo de Mayombe, de Pepetela, é correto afirmar que:
a. Assumido por vários narradores, cujas falas são organizadas por uma 
espécie de narrador titular, o fio narrativo do romance é dividido e 
comungado pelos elementos que vivem as ações do enredo. 
b. A divisão do fio narrativo no romance, onde tudo convida à comunhão, 
constitui uma necessária operação de fragmentação, disposta a marcar os 
dois lados antagônicos em questão: o dos angolanos e o dos portugueses.
c. A marca do foco narrativo é a da democratização da voz, articulada ao
 peso dos monólogos nos quais cada narrador está mergulhado e dos quais 
nunca consegue sair sem se transformar radicalmente.
d. A fragmentação narrativa do romance é um sinal de que a autoridade, 
de que a palavra é manifestação, não pode ser compartilhada e sim 
exercida de maneira unívoca.
e. O foco narrativo, que privilegia a constante interação dialógica 
entre os personagens, configura-se em um universo à parte, independente 
do espaço onde se dão as ações do romance.
Questão 02 - FCL 2017 - FCL 2017 - Sobre Mayombe, de Pepetela, é correto afirmar que:
a. O romance trata dos velhos fantasmas coloniais que se perpetuaram com
 a independência de Angola e que sacudiram a frágil sustentação da 
utopia que mediara o empenho, fundindo ética e estética no projeto 
literário do continente africano.
b. Em Mayombe o clima de diálogo predomina, mas as conversas são 
atravessadas pelos sinais da incomunicabilidade. A incompreensão, a 
rivalidade, as intrigas manifestas ou tão somente sugeridas fazem prever
 a irrealização dos propósitos que teriam levado à luta.
c. Palco de situações expressivas da atmosfera predominante naquele 
momento histórico, a floresta labiríntica e traiçoeira funciona 
estrategicamente como uma alegoria do projeto de nação imaginado e 
perseguido pelos militantes.
d. A língua em estilhaços, o ritmo desgovernado da memória, o 
entrecruzamento de referências culturais, o aproveitamento possível de 
elementos identificados com a tradição integram a estratégia do autor na
 escolha da floresta como espaço privilegiado do romance.
e. Politizado, o Mayombe é lugar de conflito e contradição, podendo ser 
visto como uma representação de Luanda, a capital do país, onde a luta 
ia ganhando força e onde, em novembro de 1975, se proclama a 
independência do país.
Questão 03 - FCL 2017 - FCL 2017 - Leia o excerto de 
Mayombe, de Pepetela, no qual as personagens “dirigente” e Comandante 
Sem Medo discutem o comportamento do combatente chamado Mundo Novo. As 
indicações [d] e [C] identificam, respectivamente, as falas iniciais do 
“dirigente” e do Comandante Sem Medo, que se alternam, no diálogo. [d] 
(...) A propósito do Mundo Novo: a que chamas tu ser dogmático? [C] — 
Ser dogmático? Sabes tão bem como eu. — Depende, as palavras são 
relativas. Sem Medo sorriu. — Tens razão, as palavras são relativas. Ele
 é demasiado rígido na sua conceção da disciplina, não vê as condições 
existentes, quer aplicar o esquema tal qual o aprendeu. A isso eu chamo 
dogmático, penso que é a verdadeira aceção da palavra. A sua verdade é 
absoluta e toda feita, recusa-se a pô-la em dúvida, mesmo que fosse para
 a discutir e a reforçar em seguida, com os dados da prática. Como os 
católicos que recusam pôr em dúvida a existência de Deus, porque isso 
poderia perturbá-los. — E tu, Sem Medo? As tuas ideias não são 
absolutas? — Todo o homem tende para isso, sobretudo se teve uma 
educação religiosa. Muitas vezes tenho de fazer um esforço para evitar 
de engolir como verdade universal qualquer constatação particular.
a) Que relação se estabelece, no excerto, entre a forma dialogal e as ideias expressas pelo Comandante Sem Medo?
b) No plano da narração de Mayombe, isto é, no seu modo de organizar e 
distribuir o discurso narrativo, emprega-se algum recurso para evitar 
que o próprio romance, considerado no seu conjunto, recaia no dogmatismo
 criticado no excerto? Explique resumidamente.
Observe a imagem e leia o texto, para responder às questões de 04 a 06.
O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe o sopro de 
vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía-se para o solo do Mayombe, 
misturando-se às folhas em decomposição. 
[...] 
Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse. Os lábios já mal se moviam. 
A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do sincretismo da 
mata, mas se eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem 
dele mistura-se à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco 
se destaca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em 
parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se na massa. Tal o homem. As
 impressões visuais são menos nítidas e a mancha verde predominante faz 
esbater progressivamente a claridade do tronco da amoreira gigante. As 
manchas verdes são cada vez mais sobrepostas, mas, num sobressalto, o 
tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo-se. Tal é a vida. [...] Os
 olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando o tronco já invisível 
do gigante que para sempre desaparecera no seu elemento verde.
Pepetela, Mayombe.
Questão 04 - FUVEST 2017 - Considerando-se o excerto no 
contexto de Mayombe, os paralelos que nele são estabelecidos entre 
aspectos da natureza e da vida humana podem ser interpretados como uma
a) reflexão relacionada ao próprio Comandante Sem Medo e a seu dilema 
característico entre a valorização do indivíduo e o engajamento em um 
projeto eminentemente coletivo. 
b) caracterização flagrante da dificuldade de aceder ao plano do 
raciocínio abstrato, típica da atitude pragmática do militante 
revolucionário.
c) figuração da harmonia que reina no mundo natural, em contraste com as
 dissensões que caracterizam as relações humanas, notadamente nas zonas 
urbanizadas.
d) representação do juízo do Comissário a respeito da manifesta 
incapacidade que tem o Comandante Sem Medo de ultrapassar o dogmatismo 
doutrinário.
e) crítica esclarecida à mentalidade animista - que tende a personificar
 os elementos da natureza - e ao tribalismo, ainda muito difundidos 
entre os guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola 
(MPLA).
Questão 05 - FUVEST 2017 - Consideradas no âmbito dos 
valores que são postos em jogo em Mayombe, as relações entre a árvore e a
 floresta, tal como concebidas e expressas no excerto, ensejam a 
valorização de uma conduta que corresponde à da personagem
a) João Romão, de O cortiço, observadas as relações que estabelece com a comunidade dos encortiçados.
b) Jacinto, de A cidade e as serras, tendo em vista suas práticas de beneficência junto aos pobres de Paris. 
c) Fabiano, de Vidas secas, na medida em que ele se integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e vizinhos.
d) Pedro Bala, de Capitães da Areia, em especial ao completar sua trajetória de politização. 
e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de 
Sagarana, na sua fase inicial, quando era o valentão do lugar.
Questão 06 - FUVEST 2017 - Mayombe refere-se a uma região 
montanhosa em Angola, dominada por floresta pluvial densa, rica em 
árvores de grande porte, e localizada em área de baixa latitude (4o 
40’S). Levando em conta essas características geográficas e 
vegetacionais, é correto afirmar que
a) esse tipo de vegetação predomina na maior parte do continente africano, circundando áreas de savana e deserto.
b) se trata da única floresta pluvial sobre áreas montanhosas, pois esse tipo de floresta não ocorre em outras áreas do mundo.
c) a vegetação da região é semelhante à da floresta encontrada, no Brasil, na mesma faixa latitudinal. 
d) nessa mesma faixa latitudinal, no Brasil, há regiões áridas, de altas altitudes, em que predominam ervas rasteiras.
e) tais florestas pluviais só ocorrem no hemisfério sul, devido ao 
regime de chuvas e às altas temperaturas nesse hemisfério, onde ocupam 
todo tipo de relevo.
Questão 07 - PUC-SP 2017 -  “Virou-se para Teoria. Este ainda não dormia. Sem Medo segredou-lhe:
— O que conta é a ação. Os problemas do Movimento resolvem-se, fazendo a
 ação armada. A mobilização do povo de Cabinda faz-se desenvolvendo a 
ação. Os problemas pessoais resolvem-se na ação. Não uma ação à toa, uma
 ação por si. Mas a ação revolucionária. O que interessa é fazer a 
Revolução, mesmo que ela venha a ser traída.”
Pepetela. Mayombe. São Paulo: Leya, 2013, p. 237.
O trecho, extraído de um romance angolano, refere-se à luta do Movimento
 Popular de Libertação de Angola (MPLA), na década de 1970, pela 
independência de Angola. Nessa obra de ficção, aparecem diversos temas 
presentes nesse conflito. Entre eles,
a) a impossibilidade de saídas negociadas, as divergências entre os 
vários grupos que lutavam contra a colonização portuguesa, o 
personalismo de algumas lideranças. 
b) o apoio da comunidade internacional à independência angolana, a 
articulação da luta das várias tribos, a preocupação dos portugueses com
 reformas políticas e sociais.
c) o temor do povo angolano face à ameaça de invasão estrangeira, o 
diálogo ininterrupto com os representantes portugueses, o abandono da 
luta armada.
d) a aliança da guerrilha angolana com os fascistas portugueses, a ampla
 mobilização popular em favor da emancipação política, a unidade dos 
grupos em luta.
GABARITO
01 - A
02 - E
03 - RESOLUÇÃO:
a) O diálogo no excerto faz referência ao discurso dogmático de Mundo 
Novo, que entendia de forma unilateral a postura política dentro do 
movimento da guerrilha. A opinião de Mundo Novo sobre o aspecto 
disciplinar é intransigente, devido à rigidez de seu aprendizado. O 
Comandante Sem Medo relativiza as opiniões, evitando assumir um 
posicionamento único sobre qualquer assunto no que compete ao grupo. 
Essa relativização supõe respeito por uma pluralidade de opiniões, o que
 é formalmente representado pela forma dialogal.
b) Em Mayombe, o discurso polifônico surge como recurso por meio do qual
 diversas vozes narrativas se cruzam. Além da voz do narrador principal,
 que sustenta uma opinião livre do dogmatismo e mais preocupada com a 
unidade política de Angola, a narrativa abre espaço para a visão 
específica de várias personagens. Essas falas individuais marcam 
posicionamentos políticos distintos e abrem espaço para a diversidade de
 opinião dentro do movimento de guerrilha, postura que, no conjunto do 
romance, neutraliza o perfil dogmático como o defendido por Mundo Novo.
04 - A
05 - D
06 - C
07 - A
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